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Intelectual

O padre, por sua função profética, foi chamado a ser mestre. É o próprio Mestre que o envia: “Ensinai a todos os povos” (Mt 28, 19). Por isso, a formação intelectual é um dos pontos fundamentais da preparação do seminarista.

Numa civilização como a nossa, atualmente tão adiantada nas ciências e na técnica, o sacerdote enfrenta, dentro e fora da Igreja, circunstâncias assaz complexas (problemas ideológicos, psicológicos, filosóficos, morais etc.) e ambientes muitas vezes hostis ou indiferentes. O sacerdote de hoje é chamado a ser pastor de homens e mulheres mais adultos, mais críticos, mais informados; imersos num mundo ideologicamente pluralista, onde o cristianismo está exposto a múltiplas interpretações e suspeitas por parte de uma cultura cada vez mais estranha à fé; um mundo com inúmeros problemas morais intrincados, invadido por numerosas seitas que oferecem soluções fáceis e imediatas para as necessidades religiosas da pessoa, e desarvorado por desvios doutrinais. Tudo isso exige do padre de hoje ciência e cultura apropriadas, que possibilitem o contato com os homens de sua época, e tornem eficaz a transmissão do Evangelho.

A formação intelectual não se reduz ao cumprimento de um currículo acadêmico. Além de adquirir certos conhecimentos, o aluno deve potencializar e harmonizar suas capacidades intelectuais, e tentar conseguir aquelas disposições e hábitos que farão dele uma pessoa intelectualmente madura. Só então dará todo seu fruto à assimilação de uma bagagem de conteúdo, que deve ser a mais ampla e profunda possível nos campos da filosofia, da teologia e da cultura geral, bem como a capacidade pessoal da comunicação eficaz dos conteúdos dessas ciências aos demais.

A formação filosófica:

A filosofia assinala um momento importante na formação da capacidade intelectual do candidato ao sacerdócio. Os estudos filosóficos são escola de reflexão. Através da filosófica, o seminarista aprende a pensar com profundidade chegando às ultimas causas do ser e à objetividade do real. Por ela vai aguçando o seu sentido crítico, ai se entusiasmando pela verdade, onde quer que se encontre, e aprende a descobrir e refutar o erro.

Os estudos filosóficos trazem consigo um patrimônio de sabedoria tão antiga como a própria humanidade. Com este saber, o estudante encontra-se, a fundo e sistematicamente, diante dos mais agudos problemas teóricos e existenciais do ser humano, aprofundando-se nas suas raízes. Desse modo, o seminarista entrará em contato com as ideias que revolucionaram o curso da história e que foram esboçando o que o homem sabe “humanamente” acerca de si mesmo, acerca do mundo e acerca de Deus; portanto, estará apto ao diálogo diante qualquer sistema de pensamento (ideológicos, antropológicos, psicológicos, morais etc.) dentre os diversos existentes atualmente. Portanto, é costume dizer que a filosofia tem um valor cultural insubstituível; ela constitui a alma da autêntica cultura.

Não menos importante, a filosofia constitui um auxílio precioso para a fé e para a teologia. É de suma importância evitar, a todo preço, uma ruptura interior entre fé e razão. O amor à sabedoria, por sua fidelidade à Verdade, contribui para o acordo entre o conhecimento da razão e o conhecimento da fé que a sublima. Além disso, o estudo da filosofia é um instrumento muito útil para a teologia, seja pelas noções e princípios que oferece à especulação teológica, seja pelos processos de reflexão que apresenta para prosseguir retamente o discurso sobre Deus, e aprofunda os dados revelados. Por isso, normalmente é mais proveitoso realizar os estudos filosóficos antes dos teológicos, não os fazendo simultaneamente.

No campo apostólico, o Evangelho deve ser levado aos homens e às mulheres do nosso tempo, evangelizar suas mentes e aspirações, levedar a cultura com a Boa Nova. Para compreender, dialogar e ter argumentos, mesmo puramente humanos, a filosofia presta um serviço insubstituível; torna-se um terreno de encontro e de diálogo, sobretudo entre crentes e incrédulos.

A formação teológica:

A formação teológica é o coroamento da preparação acadêmica sacerdotal. É o período em que o candidato se adestra no conhecimento científico e experimental de sua fé e dos problemas pastorais, sobre os quais muito em breve haverá de aplicar a luz da Revelação, o zelo de seu coração apostólico e a prudência do bom pastor. A teologia, enquanto ciência de Deus, é a ciência que caracteriza o sacerdote enquanto homem de Deus.

O currículo teológico deve conduzir ao conhecimento global da doutrina católica, portanto, com base nas Sagradas Escrituras, na Tradição e no Magistério. Isto deve acontecer de modo que os alunos se aprofundem na mesma doutrina, transformem-na em alimento de sua própria vida espiritual e possam comunicá-la, expô-la e defendê-la no ministério sacerdotal, ou seja, deve promover um verdadeiro encontro pessoal com Deus, tanto do seminarista quanto das demais pessoas a quem eles comunicarem a Revelação, suscitando em todos estímulos à oração e à contemplação. Por isso mesmo, a tarefa principal será proporcionar-lhes uma visão completa e orgânica das matérias principais, sem esquecer as mais periféricas, mas também necessárias para sua formação doutrinal e pastoral.

Deste modo, convém que o futuro sacerdote se aproxime da teologia com a razão iluminada por uma fé viva e operante, de tal modo que as verdades estudadas cheguem a converter-se em princípios da vida cristã, aumentem seu conhecimento e relacionamento pessoal com Cristo, ajudem-no a aprofundar sua inserção vital na Igreja e despertem nele a consciência de seu trabalho apostólico.

Ampla cultura geral:

O sacerdote sempre se dirige a homens e mulheres de uma determinada época e cultura. Ele deve conhecer a cada um segundo sua individualidade, para amá-los e ajudá-los tal qual são. Porém não poderá conhecê-los a fundo se não conhecer também as principais características da sociedade e da cultura atual, ou o patrimônio cultural da humanidade.

A história, a literatura, as artes plásticas, a música, as ciências modernas etc. são como lagos de água viva, em que se acumula o contínuo fluir das culturas e das sociedades. Quem delas se aproxima, achega-se às melhores realizações do espírito humano ao longo dos séculos. Doutra forma, a aquisição de uma ampla cultura geral constitui uma base bem assentada para a construção do próprio edifício filosófico-teológico.

As ciências humanas, de maneira especial, tem incidência direta sobre a compreensão da pessoa. A psicologia, a pedagogia e a sociologia podem ser um complemento muito útil dos estudos eclesiásticos. Línguas estrangeiras modernas, bem como o próprio idioma, se fazem necessariamente indispensáveis neste mundo cada vez mais interligado devido aos meios de transporte e de comunicação social. Os seminaristas devem estar a par do conhecimento de setores especialmente incisivos atualmente, tais como a política, a economia, a legislação do próprio país etc. Mas também o conhecimento das demais ciências é sempre uma riqueza que não pode ser desprezada: todo conhecimento adquirido é útil, sobretudo aos candidatos ao sacerdócio, os quais podem aproveitar-se desses conhecimentos para seu futuro apostolado. Àqueles que ingressam no seminário sem uma bagagem cultural geral ampla, podem ser oferecidos alguns meios que lhes deem a oportunidade de ir descobrindo esses campos, sem descuidar de sua dedicação fundamental à filosofia e à teologia.

Saber transmitir a mensagem:

Bem desenvolvida, a capacidade de expressão multiplica o rendimento de uma formação intelectual sólida e mesmo apenas discreta. Descuidada, pode quase inutilizar o acervo filosófico, teológico e cultural adquirido, por mais brilhante que seja. Um sacerdote sábio, que não sabe transmitir sua mensagem, é como um poço profundo cheio de água fresca, mas sem o cântaro para retirá-la. O viajante que dele se aproxima vai-se embora sedento. Bastaria ouvir os comentários dos paroquianos sobre determinadas homilias.

As pessoas esperam do sacerdote que leia, escreva e fale corretamente, fluentemente e vigorosamente. É evidente que entre todas as pessoas e, não menos com os seminaristas, uns são mais bem dotados do que outros. A capacidade de comunicar-se oralmente ou por escrito depende, em grande parte, das aptidões naturais da pessoa e de sua educação anterior. No entanto, sempre é possível capacitar o material que se tem em mãos e atingir pelo menos um nível suficiente.

O programa acadêmico do seminário deve, portanto, incluir atividades que ensinem a teoria e favoreçam a prática da comunicação: aulas e exercícios de redação, de expressão oral, emissão de voz, técnicas e conteúdos da retórica clássica e moderna, homilética etc. Mais ainda, convém que, pelo menos alguns dos mais dotados neste campo, se preparem nas técnicas do debate, na dinâmica de grupos, na comunicação radiofônica e televisiva. O sacerdote é o homem da Palavra: deve com habilidade saber manejar a palavra.

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