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Humana

“Tomado dentre os homens”. O vinho novo e melhor da graça, com seus dons, compromissos e exigências, requer odres novos que o acolham com nobreza, o conservem fielmente e lhe permitam desenvolver eficazmente seu dinamismo santificador. A graça sobrenatural não destrói a natureza, mas sim a eleva. A formação espiritual supõe e exige a formação humana do futuro sacerdote.

“A formação do homem deve caminhar ‘pari-passu’ com a do cristão e futuro sacerdote a fim de que as energias naturais sejam purificadas e auxiliadas pela oração, pela graça dos sacramentos (…) e pelo influxo das virtudes sobrenaturais, e estas encontrem nas virtudes naturais uma defesa e, ao mesmo tempo, um auxílio para sua ação.” (Summi Dei Verbum, 18)

Entretanto, a formação humana não só redunda em favor do formando, mas também inclui profundamente no sue futuro ministério. Sua maturidade humana, seu equilíbrio psicológico, a firmeza de sua vontade etc. condicionam de maneira extraordinária a eficácia de seu apostolado. O modo de pensar do sacerdote, sua atuação, sua apresentação pessoal, seu trato, sua maneira de expressar-se, enfim, sua configuração humana e social abre ou fecha as portas do diálogo da confiança, da amizade. Muitos se aproximam ou se afastam do sacerdote atraídos ou repelidos pela impressão deixada neles pela sua personalidade.

Os planos formativos, as atividades do seminário e, sobretudo, a atenção dos formadores e dos próprios seminaristas, não podem descuidar-se deste aspecto basilar da formação integral do sacerdote. O objetivo central da formação humana do seminarista é fomentar sua maturidade humana, conceito riquíssimo e complexo, difícil de definir e delimitar. Existem diversos caminhos de aproximação, porém nenhum deles é absoluto.

Desenvolvimento íntegro, harmônico e hierarquizado das faculdades:

Para que alguém possa alcançar a maturidade de sua personalidade, deve procurar primeiramente desenvolver ao máximo as diversas forças que possui; em seguida, desenvolver todas suas faculdades harmonicamente para que não haja desequilíbrios; além disso, deve hierarquizar suas potencialidades, cada qual desempenhando sua própria função sem invadir o campo das outras:

É evidente que cada seminarista tem sua própria personalidade, com uma estrutura temperamental congênita irrepetível e faculdades mais ou menos dotadas. O princípio de “formação personalizada” é o que nos permite a formação de cada caso particular.

Formação da Inteligência: Supõe o desenvolvimento de suas quatro funções (analisar, sintetizar, relacionar e julgar). Além disso, o seminarista deve esforçar-se para adquirir, na medida do possível, aquelas qualidades que melhor definem uma inteligência rica e poderosa, por exemplo, capacidade de pensar com profundidade, de ponderar detidamente a fim de penetrar na essência das coisas; sempre em busca de uma mente rápida, intuitiva, dinâmica.

Formação da Vontade: Do ponto de vista natural, o valor de um homem depende, em grande parte, do grau em que consegue plasmar sua vontade. Somente por ela poderá imprimir um determinado rumo à sua vida, orientando e dominando todo seu ser. Em outras palavras, o homem é livre na medida em que é senhor de si mesmo, na medida em que guie, canalize e domine suas paixões, sentimentos e instintos, e aja acima das circunstâncias externas, de acordo com os critérios que a razão iluminada pela fé lhe apresenta. Portanto, o exercício da vontade para querer o bem não pode estar ausente na preparação do candidato ao sacerdócio. Se Deus não vier em auxílio, de modo extraordinário, dela depende o êxito na parte humana, sobrenatural e apostólica. Se faltar o apoio da vontade, tanto os auxílios da graça como as demais qualidades humanas ficarão gravemente comprometidas.

Formação das Paixões: A paixão é uma tendência que se desenvolve de maneira superior ao normal. Isso acontece com qualquer ser humano, tanto no campo intelectivo (tendência à verdade, à beleza, à afirmação de si etc.) quanto no sensitivo (tendência à comida, ao descanso, à auto-conservação, à reprodução etc.). As paixões, em si mesmas, não são negativas. Simplesmente são forças de maior ou menor intensidade. O sentido da formação das paixões é canalizar seu valioso potencial com retidão e firmeza, sublimando-o e orientando-o, de modo que venham a ser estímulo e força para grandes empreendimentos.

Formação dos Sentimentos: Procura aproveitar-se da sua força canalizadora para o bem integral da pessoa e para o cumprimento da missão que Deus lhe confiou. Assim, os sentimentos enriquecem notavelmente o formando e o tornam capacitado para experiências humanas profundas, de aproximação a Deus e aos homens. Um primeiro passo indispensável consiste em reconhecer que está sempre em nossas mãos a possibilidade de dominar, orientar e harmonizar a própria personalidade, com toda sua riqueza tornando-a generosa, forte e senhora de si. Da mesma forma, o formando precisa analisar e conhecer os próprios sentimentos, principalmente os predominantes, e estar consciente do grau de influência que eles tem sobre seu comportamento.

Formação da dimensão moral: A formação humana inclui necessariamente a educação dessa dimensão moral, pela qual um ser humano é “bom” enquanto ser humano. O centro dessa dimensão é a consciência moral. Com efeito, para quem pretende ser “homem de Deus”, o mais importante é formar aquilo que é o “núcleo secretíssimo e o sacrário do homem, onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa a sua voz” (Gaudium et Spes, 16). Formar a consciência será então preparar o encontro com Deus, ouvir sua voz.

A consciência bem formada é a garantia de que não há dissimulação, insinceridade, hipocrisia. Pelo contrário, uma consciência deformada é fonte de trevas e angústias. Além disso, porém, a consciência do sacerdote está a serviço dos outros, pois ele é chamado a ser mestre na fé, guia no caminho para Deus, educador da consciência moral dos fiéis a si confiados: boa parte do seu ministério diário consiste em iluminar as consciências e aconselhar homens e mulheres na confissão, na direção espiritual, em reuniões e conferências e até no diálogo informal.

Para bem formar a consciência, é muito importante conseguir um são equilíbrio entre as dimensões objetiva e subjetiva da moralidade, bem como o equilíbrio dos fatores morais que dependem da natureza do ser humano enquanto tal e os que são devidos à sua história. Somente assim evita-se extremos errôneos. Os objetivos da formação da consciência são:

Sua educação para abrir-se aos valores objetivos e conformar-se com a norma moral objetiva;
O fortalecimento da sua influência sobre a vontade;
A instrução de suas funções (perceber o bem e o mal como algo a ser feito ou evitado; incitar a fazer o bem e evitar o mal; emitir juízos sobre a bondade ou maldade do que foi feito).
A dimensão moral da pessoa inclui também a vivência das virtudes morais. É um campo variado e fecundo em que o seminarista pode ir enriquecendo sua personalidade humana, cristã e sacerdotal. As virtudes morais cardeais (prudência, justiça, fortaleza e temperança) são a base de onde derivam todas as demais virtudes.

Formação da Imaginação: Esta é a faculdade da criatividade e da originalidade. Uma imaginação bem cultivada é uma mina inesgotável de iniciativas no trabalho apostólico e em todas as dimensões da vida. A função da educação da imaginação é seu desenvolvimento e fortalecimento, assim como a sua orientação. Fazem parte da formação da imaginação o exercício de fortalecimento da capacidade de expressão (oral e escrita), a leitura de autores de fértil imaginação que podem iluminar aqueles que mais carecem dessa qualidade. Sobretudo, a inteligência deve colaborar com a inteligência e com a vontade, fixando-se naquilo que estas faculdades lhe apresentam.

Formação da Memória: Eis um caminho árduo e lento, com sabor amargo, pois supõe a disciplina da concentração, do método inteligente, da constância na memorização cotidiana. Porém, a memória é um dom de Deus, e pode chegar a ser precioso tesouro de conhecimentos e experiências. Não se trata de substituir a compreensão e a reflexão por meio dela, mas de enriquecer o depósito e a capacidade intelectual, potencializando sua eficiência e garantindo sua eficácia.

Formação Física: As atividades desportivas e recreativas contribuem para a recuperação das forças físicas e psíquicas, para conservar e fortalecer uma boa saúde, e favorecer uma sã convivência. “Os exercícios e apresentações esportivas auxiliam a manter o equilíbrio do espírito (…) e a estabelecer relações fraternais entre os homens” (Gaudium et Spes, 61). Além disso, tais atividades oferecem oportunidades magníficas de conhecimento próprio, de formação e do exercício de múltiplas faculdades e virtudes: a diligência, o esforço e a concentração da vontade, a generosidade, a abertura caritativa para os outros etc.

Formação do trato e do comportamento social: A transformação que deve acontecer na vida do candidato ao sacerdócio deve atingir também seu relacionamento com os outros e, ainda, o modo de apresentar-se e de comportar-se no ambiente social que o rodeia. O exterior é reflexo do interior. É necessário que tudo no sacerdote, tanto o interior quanto o exterior, seja ocasião de ajuda para aqueles que dele se aproximam a fim de encontrarem o Salvador.

Cada sacerdote tem, naturalmente, seu modo de ser e é necessário que se comporte com naturalidade. Mas sempre se deve perguntar se não há nada que possa ou deva talvez mudar para assemelhar-se cada vez mais a Cristo e, assim, cumprir melhor a missão a si confiada.

Espera-se do sacerdote, e, portanto do seminarista, um procedimento amável e aberto, um trato respeitoso e amável com todas as pessoas assim como elas são, de forma benigna e mansa, sabendo silenciar e escutar, interessar-se pelos outros, abrindo-se para o diálogo sempre que for preciso. Além disso, é essencial uma conduta distinta e cortês no seu modo de falar, no vocabulário, no trato pessoal. Isto a fim de não afastar nenhum dos que lhe forem confiados, mas, pelo contrário, atrair para Cristo, através de si, de seu comportamento.

É dever dos formadores ajudar seus seminaristas a aperfeiçoar os diversos pormenores que podem contribuir para a configuração de seu perfil como sacerdotes de Cristo para o povo de Deus. Essa tarefa parece ser assustadora, pois podemos nos perder nesse emaranhado de virtudes, qualidades, comportamentos, atitudes etc. Porém, na realidade, as coisas são mais simples do que parecem. Para quem tem claro o quadro completo da formação são relativamente fáceis de detectar, em cada caso e momento, aqueles aspectos que se apresentam como mais necessários na personalidade de cada formando.

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