Reflexão sobre a oração na vida do sacerdote

“O sacerdote não dedicado à oração é realmente um triste espetáculo”

— Cardeal Arinze

A oração é indispensável, não só na vida de um sacerdote, mas também na vida do cristão. Quero aqui meditar um pouco sobre a importância da oração na vida do sacerdote. Veremos três elementos essenciais que dão sentido à vida de oração.

O primeiro elemento é o conhecimento de Deus. Conhecer a Deus é um ponto importante para que nossa oração tenha sentido. Como posso cultivar uma amizade com uma pessoa que não conheço? Ora, se não temos um conhecimento básico de Deus, então nossa oração não tem sentido. Mas não basta apenas conhecê-lo: devemos amá-lo e deixar-nos ser amados por ele. Deus está sempre à espera dos sacerdotes no sacrário. Quantos sacerdotes caem no ativismo e se esquecem de Jesus! Sabemos que a vida de um sacerdote, sobretudo aqueles que vivem diante de realidades missionarias, é uma vida corrida – reuniões, missas, confissões, visita aos doentes, dentre muitas outras atividades –, porém o padre nunca pode esquecer-se de que não é um super-herói capaz de resolver todos os problemas da paróquia ou da diocese. Deve lembrar-se sempre que é um homem limitado, que também precisa de uma íntima união com Cristo. O padre deve organizar-se de modo a ter uma vida ascética, com horário para rezar e para estar diante de Jesus sacramentado. O padre deve ser o primeiro adorador. Não basta apenas falar sobre Deus às pessoas, é necessário conhecê-lo e amá-lo de modo a viver aquilo que ela prega às pessoas. Nesse sentido, o conhecimento de Deus torna o presbítero mais autêntico naquilo que prega.

O segundo elemento é a confiança verdadeira em Deus. Confiar em Deus é saber que ele providencia tudo em sua vida. Triste o sacerdote que tirou sua confiança de Deus e colocou-a em suas próprias capacidades, esquecendo-se que de que o sacerdote age in persona Christi! Isso significa que quando o sacerdote age, ele o faz na pessoa de Cristo, ou seja, não é ele quem está agindo, mas Cristo. É triste ver muitos sacerdotes tirando a sua confiança em Deus por coisas supérfluas, efêmeras e passageiras. É triste ver sacerdotes que confiam mais no dinheiro do que em Cristo. Isso é um grande mal nos dias atuais; sacerdotes alucinados por dinheiro e por bens materiais. É triste, mas é uma realidade muito pertinente. Essas realidades podem interpretados como uma falta de confiança em Deus, uma confiança depositada em bens materiais. É fácil para o sacerdote confiar em Deus quando tudo vai bem e tudo acontece conforme planejado em sua paroquia e pastorais, mas confiar em Deus quando não se consegue visualizar uma solução para os problemas é difícil. Embora reconheçamos essa dificuldade, isso não significa que seja impossível confiar em Deus em tempos difíceis. Pelo contrário, nestas horas de tribulações é que se releva a verdadeira fé! As provações deveriam ser momentos de manifestação do cuidado e misericórdia de Deus. Confia em Deus e descansa Nele, pois melhor é um sacerdote estar em um mar revolto com Cristo no barco do que em terra firme sem ele e rodeado de demônios.

O terceiro elemento é a prece confiante a Deus. O que um sacerdote deve pedir a Deus em suas orações? Começo falando do que não se deve pedir. Muitas vezes, o que pedimos a Deus não é exatamente aquilo de que estamos precisando. Quantas vezes diante de Deus alguns pedem coisas que não vão acrescentar nada à sua vida e em seu ministério! Muitos chegam até mesmo a ficar revoltados com Deus por não receberem aquilo que tanto pediram! Mas será que você está realmente pedindo aquilo de que de fato necessita? Deus te conhece e sempre lhe concede aquilo de que você necessita, desde as coisas pequenas até as grandes. O sacerdote deve pedir a Deus uma única coisa: “senhor concede-me a graça de sempre fazer a tua vontade”. Essa deve ser a súplica de um sacerdote que por amor a Cristo decidiu consumir sua vida pelo Reino. Queridos sacerdotes, também não vos esqueçam de sempre agradecer a Deus pelos inúmeros benefícios que ele sempre vos concede! A gratidão a Deus, quando exercida de maneira humilde, pode fazer um dia ruim se tornar bom. Não é que somente a gratidão possa resolver seus problemas, mas sim que ela deixa tudo mais leve, ela renova o vosso espírito para serdes mais feliz no dia a dia.

O catecismo da igreja nos diz: “A oração cristã é uma relação de aliança entre Deus e o homem em Cristo. É ação de Deus e do homem; jorra do Espírito Santo e de nós, toda orientada para o Pai, em união com a vontade humana do Filho de Deus feito homem” (CIC 2564). Portanto, a oração de um sacerdote deve formar essa aliança entre ele e Deus. Essa relação deve conformar a vontade do sacerdote com a vontade de Deus, donde deve nascer uma estreita relação de amor e misericórdia entre Deus e o homem. Somente nessa íntima relação de amor o sacerdote será capaz de encontrar o sentido de seu ministério. Eis a verdadeira realização de vida, e sobretudo aí o sacerdote é capaz de entender as palavras de São Paulo ao Gálatas “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (gálatas 2:20). Queridos sacerdotes, sejam fiéis ao amor de Cristo por meio da oração.

Ray Moreira Veras
Diocese de Grajaú

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